Arquivo Digital - Curso de Direito (2007-2012)

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sábado, 10 de setembro de 2011

Sócrates, um exemplo a ser seguido

Em algum alugar nesse mundo você ouviu falar nesse filósofo. Assim que comecei a estudar o Direito, confesso que minha mente não era muito aberta com relação aos filósofos que pisaram nessa terra. Hoje, reconheço a importância de estudarmos esses pensadores que amavam o mundo das idéias.

Sócrates, não escreveu uma obra sobre sua biografia. Seu discípulo Platão retrata sua ideias em alguns livros, mas pelo pouco que sei suas frases perturbam até hoje a mente de muitos intelectuais, se não vejamos:                                                                             - "Só sei que nada sei"
- "Conhece-ti a ti mesmo". 
- "Só quem entende a beleza do perdão pode julgar seus semelhantes" etc. O foco central de seus pensamentos era de que "voltando-se para seu interior por meio do autoconhecimento e pela sabedoria, o homem chega se realiza como pessoa, nunca esquecendo de praticar o bem".

Muitos historiadores acreditam que por causa de seus inúmeros questionamentos (já que perguntava mais que respondia) foi condenado à morte pelos gregos (foi obrigado a tomar um veneno mortal).

Isso talvez sirva de lição para os futuros operados do Direito. Que possamos valorizar a Liberdade e expressar tudo aquilo que sentimos por dentro. Sermos livres com nossos ideias, termos dignidade e vivermos sempre em busca de melhorias para a sociedade em que vivemos.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Steve Jobs em Stanford (legendado) [parte 1]

Araguaína, mostra a tua cara!

Estou com sede de Justiça Social!!! 

Na semana passada, o mestre da informática - Steve Jobs, deixou a presidência da empresa da marca mais valiosa do mundo. Jobs é conhecido também por ter uma fortuna de 8 bilhões de reais, ser filho adotivo, ter recolhido garrafas de coca-cola para comer, ter sido o inventor do primeiro computador portátil do mundo, como também por ter lançado o ipad, iphone...e por ter colocado uma maçã em seus designs eletrônicos.
A razão de sua demissão é a mesma que tirou o Reinaldo Gianecchini das telas: o câncer. Uma doença silenciosa e inimiga de todas as pessoas, e que infelizmente ainda não há uma vacina pra preveni-lá. Sem falar que é a segunda doença que mais mata no Brasil todos os dias, e que possui o custo mais alto para um tratamento de qualidade, onde muitos especialistas já consideram "a doença do século".

Minha intenção aqui nesse artigo não é discutir assuntos partidários. Chega de discursos. Não quero também julgar o atual quadro político tocantinense governo x oposição. Precisamos de atitudes objetivas e concretas.

Precisamos urgentemente de dois hospitais e de uma Unidade de internação para menores infratores em Araguaína . O primeiro seria para o tratamento do câncer, e o segundo para realizar o sonho de muita gente, que é a construção do HGA.    

Isto posto, gostaria de fazer a seguinte indagação.O que você tem feito de concreto por sua cidade? Já cobrou o voto aquele que você deu para eleger determinado político? 

Nesses últimos dias só vejo as pessoas preocupadas com os nomes dos futuros candidatos para prefeito de Araguaína. Os projetos de nossa cidade estão em segundo plano. Discutir nomes é coisa para os presidentes dos partidos, pesquisas e líderes que tem poder de decisão. A coisa mais importante que temos é o VOTO. Valorize essa arma poderosa. Não se engane com a popularidade de alguns políticos.

A questão de uma cidade com mais de 170.000 habitantes exige competência e determinação. Hoje minha arma é apenas a escrita em blogs. Não quero criticar por criticar, quero apresenta a seguinte sugestão: Use sua força, e assim nossa cidade terá uma nova cara!

Abraços. Bom feriado. 

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Jô Soares entrevista Arystóbulo de Oliveira Freitas 06/09/2011

Vozes Contra a Globalização - (trechos) Esquivel - Saramago - Galeano - ...

A trajetória de Vida de Fernando Capez


Procurador de Justiça que ingressou no Ministério Público em 8 de janeiro de 1988, atualmente licenciado do Parquet paulista para exercer o mandato de Deputado Estadual, Fernando Capez é o entrevistado do Jornal Carta Forense deste mês.
Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), Mestre em Direito pela USP, Doutor pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) e renomado professor em cursos preparatórios para carreiras jurídicas, Capez nos contará detalhes interessantes de sua trajetória na área jurídica.
Como foi a sua infância?
Tive uma infância muito feliz, da qual guardo grandes recordações. Passava as férias de julho e do fim de ano em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, com meus primos, e me recordo de cada detalhe dos momentos mais marcantes e inesquecíveis, principalmente de 1970 a 1981. Fui também muito estudioso, na época, conhecido como “CDF”, sentava na primeira cadeira da primeira fileira e sugava cada detalhe das aulas. Meu objetivo sempre era o de tirar boas notas, fechar todas as matérias em novembro e entrar em férias antecipadamente, para só voltar a pensar em estudo no mês de fevereiro. Na adolescência, mantive o ritmo. Talvez devesse ter aproveitado mais. A determinação para os estudos nessa fase me afastou um pouco daquelas coisas típicas da idade. Se pudesse voltar no tempo, teria sido menos racional dos 13 aos 18 anos.
Tenho enorme gratidão pelo sacrifício que meus pais fizeram. Permitiram que eu estudasse em um dos melhores e mais caros colégios de São Paulo, privando-se dos luxos normais que agradam a todas as pessoas, como roupas caras, restaurantes e viagens. O foco foi todo centrado na educação dos meus irmãos e minha. A forma singela com que procurei retribuir foi o desempenho escolar. Para mim, era o mínimo que podia fazer.
Em que momento decidiu se enveredar pelos concursos públicos?
A escolha foi sendo feita por etapas e mediante critérios naturais. No colegial, aos 14 anos, tive de optar entre as áreas de Humanas, Exatas e Biológicas. Foi fácil. Adorava Português, História, Geografia, e não gostava de Matemática, Química e Desenho Geométrico. Comecei, aí, a fazer minha opção. Chegada a hora do vestibular, dentre os diversos ramos atinentes às Ciências Humanas, a escolha do Direito me pareceu tranquila diante das possibilidades oferecidas pelo mercado de trabalho na área, também em razão de características pessoais e de temperamento. Minha ideia inicial foi advogar. Estagiei em um escritório de advocacia de porte, do Prof. Buzaid, mas com 20 anos, então no 3.º ano do Curso de Direito, a escolha pela carreira pública foi tomada de modo irreversível. Ingressei por concurso como escrevente no extinto Tribunal de Alçada Criminal. Lá, tive o privilégio de trabalhar no Setor Técnico de Pesquisas. Era pago para estudar e pesquisar doutrina e jurisprudência penal. Uma delícia. Acredito que foi um diferencial, sobretudo no campo do Direito Penal e Processual Penal. Devorava os livros e os Códigos. Estava obcecado na tarefa de me aprofundar no conhecimento jurídico. E ainda me pagavam para isso.
Quando iniciou seu preparo? Qual metodologia usou?
Você aprende e se acostuma a estudar desde cedo, mas nunca é tarde para começar. Treinei a memória desde os 7 anos de idade, quando estudava no Externato Macedo Vieira, no bairro da Aclimação. Impressionante como era forte o ritmo de ensino naquele colégio. Difícil encontrar nos dias de hoje algo semelhante. Quem conheceu, sabe do que estou falando. A diretora, a temível Dona Filhinha, era inflexível, e a média exigida era acima de 9,0. Quando ingressei no Colégio São Luís, um dos melhores da época (e até hoje), achei tranquilo, tal o nível de preparo exigido no primário. Nesse colégio, mantive o ritmo. Ingressei na USP, na Faculdade do Largo de São Francisco, e continuei do mesmo jeito. Foi em 1987, no entanto, logo após concluir o Curso, que iniciei minha preparação específica para atingir o objetivo da aprovação no concurso. Selecionei o alvo: concurso para o Ministério Público do Estado de São Paulo. Estabeleci a estratégia de combate: separar o programa específico para aquela carreira, escolher os livros e preparar o plano de estudo. Tomei a decisão: deveria ler 80 páginas por dia a partir de janeiro de 1987 até o dia em que fizesse a última prova da última fase daquele concurso. Foram milhares de páginas lidas e relidas. Estudava sentado, com régua e caneta, sublinhando os textos mais importantes e resumindo a ideia central de cada parágrafo com uma anotação sintética ao lado, no próprio livro. Livro de candidato tem de ser surrado, amassado, rasurado, de modo que só o seu dono o entenda. Livro limpinho e bonitinho não tá com nada.  Em junho de 1987, quando abriu o edital do concurso, já havia estudado o programa e comecei a revisá-lo. A aprovação em primeiro lugar não representava nada mais do que o resultado de uma estratégia preparada com racionalidade e executada com disciplina. Ninguém é mais inteligente nem melhor do que ninguém. Basta acreditar e não desistir. Só não vence quem desiste. Quem insiste sempre vence, até mesmo na vaga do que desistiu.
Quanto tempo demorou para ser aprovado no primeiro concurso?
Exatamente 11 meses e 20 dias. Sempre destaco nas minhas palestras que, quando queremos algo, temos de lutar para que isso aconteça, mesmo que possa demorar um pouco. Sempre fui obstinado pela vitória. A minha realização profissional foi fruto de uma estratégia de longo prazo, iniciada desde os primeiros anos de vida. Estudar sempre. O estudo é o passaporte para a liberdade.
O Ministério Público sempre foi seu foco principal?
A partir do momento em que fiz a opção pela carreira, ela se tornou irreversível. Claro que o estudo do Direito Penal e Processual Penal aprofundado pelo trabalho no Tribunal de Alçada Criminal paulista reforçou minha inclinação pela carreira, cujo foco principal, ao lado das ações civis públicas, é de titular exclusivo da ação penal pública. Lembro de casos interessantes em que atuei, como o da violência das torcidas organizadas de futebol em 1995, das ações por irregularidades nos serviços de coleta de lixo em 1999, e de um caso muito triste no Tribunal do Júri, do homícidio e estupro de três meninas em Ibaté, no interior de São Paulo.
O senhor sofreu alguma cobrança de familiares e amigos pelo resultado pretendido?
Quem nos cobra é a nossa consciência. O desejo de trazer felicidade àqueles que amamos. A alegria de ver os olhos mareados de quem dedicou a própria vida por nossa realização. Meu combustível, a força que sempre me propulsionou em todos os desafios, foi a vontade de premiar meus pais com a efetivação de seus sonhos. No fundo, é isso que conta. O amor, na sua forma mais pura, é o que nos move em direção aos nossos objetivos.
Depois de aprovado, como foi sua rotina de Promotor de Justiça recém-empossado?
Após a aprovação, atuei em diversas cidades do interior - Cananéia, Descalvado, São Roque, Mogi das Cruzes. Durante 4 anos trabalhei no Júri da Penha e Vila Mariana e, por 12 anos, na Promotoria de Justiça da Cidadania da Capital.  O Ministério Público é uma instituição vibrante e guerreira. Às vezes, há excessos, mas o balanço geral é muito positivo. Poucos órgãos públicos possuem a folha de relevantes serviços prestados à sociedade como o Ministério Público. Ele é a nossa paixão e o orgulho da sociedade brasileira.
Quais são as atividades que um Promotor de Justiça exerce? Como é a rotina profissional?
Quando se lida com as mazelas sociais, surgem os mais diversos desafios. A atuação independente, tecnicamente correta, corajosa, justa e equilibrada exige preparo jurídico e sólida formação moral por parte do Promotor de Justiça. Não se curvar a nenhum Poder que não seja o da própria consciência, arrostar os desafios, mas, ao mesmo tempo não fazer da desgraça alheia pedestal para a própria vaidade compõem o conjunto de atributos de um autêntico servidor público. Ser firme, mas conservar-se humano, fazendo prevalecer a vontade objetiva da lei sem perder de vista que ela é apenas um meio de se atingir a justiça. Atuar com bom senso, ciente de que o gabinete da Promotoria não é um oásis apartado da vida social, mas um órgão de interação com todos os agentes pulsantes da coletividade. O Promotor de Justiça é a autoridade pública encarregada da defesa do patrimônio público, cuja integralidade é necessária para atender às carências de uma sociedade desigual; da proteção do meio ambiente, de cuja preservação depende o futuro do nosso planeta, do consumidor, do deficiente, do menor e de tantos outros que dependem do Ministério Público para satisfazer sua fome e sede de justiça. O combate à criminalidade grave e organizada é outro desafio, o qual demanda estrutura própria e treinamento específico dos membros do Parquet. Tudo feito com equilíbrio e firmeza e sem personalismos. Quem brilha é a Instituição, orgulho e esperança da sociedade, mas o brilho não significa publicidade desnecessária e soberba, mas serenidade e ponderação. Nisso reside a grandeza do cargo.
Qual foi o momento mais engraçado ou curioso da sua carreira até agora?
A graça está na alegria de se fazer o que gosta. Sempre trabalhei de bom humor. Quando necessário, mostrei os dentes, mas nunca me permiti tornar-me uma pessoa amarga, autossuficiente, soberba, orgulhosa. Quando isso ocorreu, foi por descuido. Mas felizmente, Deus nos faz lembrar sempre de nossa insignificância perante Sua dimensão infinita.
Algum momento triste?
Se existiu, já foi esquecido. Só tenho amigos no Ministério Público e imensa admiração pelo trabalho e pela história de vida dos meus colegas. Aprendi muito com eles.
Quando um acadêmico ou bacharel toma a decisão de ingressar numa carreira pública, qual o primeiro passo a ser dado?
Olhar o programa, separar os livros necessários, estabelecer um plano de estudo e executá-lo de maneira determinada, sem se afastar do planejamento inicial, a não ser em hipóteses excepcionais. Ser persistente. Não desistir. Não dramatizar. Não desanimar. Não se diminuir. Não se engrandecer. Não procurar demonstrar mais conhecimento do que possui. Mostrar menos conhecimento para não atrair a atenção. Não mudar toda hora de objetivo. Preparar-se com antecedência, sem imediatismos. Ter paciência. Ter fé. Para quem prossegue sem desânimo, a vitória é certa.
Deposite suas esperanças no estudo. Estudar vale a pena. Estudar traz informação. O estudo é o passaporte para a liberdade. A pessoa bem-informada faz a diferença tanto nos concursos quanto no mercado de trabalho. O esforço pessoal é intransferível, ninguém poderá estudar por você. É a sua cota de sacrifício, mas também será a sua vitória. Repito: você deve sempre persistir e nunca desistir de seus objetivos. Mentalize: “estudar é bom; estudar liberta; estudar o faz diferente; estudar o faz importante para a sociedade, para os outros, para você.” Abra o livro agora, leia a primeira página e não pare mesmo quando bater o cansaço. Em pouco tempo, você se acostuma e não cansa mais. Vá em frente e não abandone sua estratégia de estudo. Seja feliz!

Qual a diferença?

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Meu último feriado na faculdade

Nupjur
       Prezados, no próximo feriado do dia 7 de setembro de 2012 já não estarei mais na Facdo - acredito que nessa época já estarei exercendo a profissão tão sonhada: ADVOCACIA. Por incrível que pareça, nessa data acredita-se que Dom Pedro I estava com seus 23 anos de idade (a mesma que a minha hoje). 
06 de setembro no NUPJUR - Na foto: Eduardo, Nyll, Aelton e eu.
        Há dias que estou com a impressão de que estou chegando ao fim do caminho. Olho nos corredores da faculdade e já me bate uma enorme saudade, pois sei que não existe mais nenhuma possibilidade de volta.
      Depois de ter passado quase cinco anos naquela rotina de acadêmico (sonhador), chegou a hora de bater o martelo e começar a preparação do meu pré-projeto.
       Se possível, assim que terminar minha monografia, voltarei com todo gás tanto aqui pelo blog, quanto nas redes sociais.
        Mas em compensação estou muito FELIZ com essa realização...e nada melhor do que lembrar uma frase de Santo Agostinho: "A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las...
         Bom feriado.

domingo, 4 de setembro de 2011

A importância do afeto em sala de aula

Não há quem se sinta bem ao ser maltratado, desestimulado ou desprezado. Isso vale em um restaurante, em um posto de saúde, em uma Igreja ou em uma escola. Nesses afetos cotidianos, nota-se o papel da escola como protagonista de uma sociedade melhor. É na escola que se moldarão o caráter e a personalidade, que aprendemos os primeiros passos rumo à formação do ser humano. Já não há mais espaço para instituições que passam burocraticamente informações aos alunos sem o cuidado de formá-los devidamente para a vida.

Revista Clube Eu Gosto: Qual a importância e o resultado prático da afetividade no ambiente pedagógico?
 Gabriel Chalita: O processo educativo envolve três grandes habilidades: cognitiva, social e emocional. A habilidade cognitiva trabalha com o processo constante de aprender novas idéias, conceitos e valores. A habilidade social desenvolve duas questões básicas: uma é a importância da cooperação, e a outra é a solidariedade. A habilidade emocional é a revelação do que há de mais nobre no ser humano: a capacidade de amar e de ser amado. Ela perpassa as outras duas. Não se aprende sem emoção e não se participa do jogo social sem emoção. A afetividade nasce dessa certeza de que o aluno aprende quando se sente valorizado, acolhido, respeitado. Portanto, o resultado prático é a construção de um espaço mais harmônico em que as heterogeneidades convivam em paz. E, além disso, a real possibilidade de aferir os resultados de uma educação com mais qualidade e significado para os aprendizes.

RCEG: Que ações e comportamentos práticos demonstram essa afetividade em sala de aula?
Gabriel Chalita: Afetos cotidianos. Os professores têm de conhecer os seus alunos. Sei que isso não é fácil. Mas o ideal é o que propunha Aristóteles: o educador tem de ser como o médico. O médico precisa conhecer o paciente antes de prescrever um medicamento. Há doses diferentes do remédio de acordo com a necessidade de cada um. O educador tem de ir percebendo a evolução do aprendiz. E ir conduzindo com leveza os seus passos. Na prática, significa que o professor deve se preparar para entrar em uma sala de aula. Saber o nome dos alunos. Diferenciar autoridade de autoritarismo. Compreender que a didática da sala de aula precisa ser mais envolvente. O aluno participa melhor quando se sente desafiado a resolver problemas, quando percebe que as suas dúvidas são respeitadas. Não acredito na teoria do medo para garantir o bom comportamento em sala de aula ou evitar a algazarra.

RCEG: É possível conseguir disciplina com afeto?
Gabriel Chalita: Sem dúvida. Dom Bosco, o fundador dos salesianos, dizia que não basta aos jovens que sejam amados, eles precisam sentir que são amados. Ele tinha o desafio de cuidar de crianças cuja rebeldia fazia com que não fossem aceitas em escola alguma. E, aos poucos, ele ia conquistando uma a uma. O cinema é rico em exemplos assim. Professores que transformam a desconfiança ou a apatia dos seus alunos por meio de relações educadas, ternas, competentes. Evidentemente, não basta uma postura cordial, se o professor não se prepara, se não tem o que dizer.
Conteúdo e forma são essenciais para que os alunos se interessem pela aula. O professor precisa despertar a curiosidade do aluno, compreender o erro e não supervalorizá-lo. E investir em uma relação que faça com que o aluno fique constrangido em ser indisciplinado, já que é tratado com tanto respeito. Uma regra básica: todo educador tem de ser educado. Esse já é um caminho para ter uma relação melhor entre mestre e aprendizes.

RCEG: Se a relação de afeto é uma relação com base na cumplicidade como conseguir isso do aluno?
Gabriel Chalita: Aos poucos, como toda relação de afeto. Não adianta o professor chegar a uma sala de aula e dizer que ama os alunos ou que tem afeto por eles. Essas coisas não precisam ser ditas. O tempo vai mostrando o quanto aquele professor gosta de lecionar, o quanto ele se prepara para ajudar os alunos a encontrar os próprios sonhos. Trata-se de uma conquista cotidiana. O primeiro dia de aula é fundamental. O primeiro contato tem de ser de acolhimento e investigação. Não há matéria chata. E o professor tem de se dar conta de que a didática precisa servir a essa causa de buscar na vida a continuação do conhecimento partilhado na sala de aula. É como oferecer o aroma de uma flor sem mostrá-la e esperar para ver os alpinistas escalar montes à sua procura. Paulo Freire dizia que o primeiro caminho para que o professor tenha sucesso é ver sua postura diante da vida. Quem gosta de viver tem chance de ser um bom professor; quem não gosta, fica mais difícil. Creio que o que o mestre queria dizer como isso é que a fremente aventura da vida não pode se reduzir a atitudes burocráticas, mas ao êxtase da boniteza da vida em que ensinamos e aprendemos constantemente - aí está a cumplicidade!

RCEG: Um dos resultados práticos da psicologia do afeto é o fortalecimento da autoestima. Como lutar contra o bullying, uma prática comum nas escolas e que vai contra a filosofia do afeto.
Gabriel Chalita: o bullying é uma atitude de não convivência, de não harmonia nas relações humanas. Nasce do preconceito contra alguém que é diferente. Aí começa o problema, porque diferentes são todos. Não há pessoas iguais, nem os gêmeos. E conviver com a diferença faz parte da habilidade social. O bullying coloca no agressor o direito de destruir a vítima física ou moralmente. A vítima, debilitada, sente-se menor que os demais. Os que assistem também se diminuem. Aprendem antivalores. Acredito que o agressor ou os agressores sejam também vítimas. Não acredito que alguém nasça violento ou preconceituoso. Essas coisas são aprendidas em casa, na mídia, no contato com outras pessoas. Recentemente, os meios de comunicação mostraram uma mãe incentivando a filha a brigar na porta de uma escola. Na entrevista, ela não teve dúvidas: “Minha filha nasceu para bater e não para apanhar”. É impressionante como os pais estão distantes do que seria uma educação de qualidade. Alguns são ausentes; outros, sufocantes; outros, competidores ávidos que não admitem um erro dos filhos. Querem sempre vê-los no primeiro lugar do pódio. Ledo engano. A infância tem de ser o tempo da infância. Com as brincadeiras da infância. Cada coisa no seu tempo. Aliás, em vez de transformá-las em adultos deveríamos fazer o inverso, redescobrir a criança adormecida nos adultos.

RCEG: O material didático tem alguma importância nesse processo de aplicação pratica de afeto?
Gabriel Chalita: Todo material é importante para instrumentalizar os caminhantes. O material didático não pode frustrar a autonomia, ao contrário, tem de despertar a curiosidade em impulsionar a competência na resolução de problemas. Assim, também, o chamado material paradidático. O livro é um instrumento precioso. A tecnologia evidentemente trouxe um novo tempo para o processo educativo, mas o livro, a contação de histórias, o convívio são a essência de um processo de crescimento, como já dissemos, cognitivo social e emocional entre alunos e professores. Lembro-me de uma de uma das minhas primeiras professoras que toda sexta-feira nos colocava no chão para ouvir uma historia. Às vezes lia, às vezes contava. E no momento mais curioso da narrativa, fechava o livro ou a boca, dava uma pausa, e a noticia de que o final da historia ficaria para a segunda-feira. E aí estava a curiosidade. Havia poucos livros na biblioteca e quase sempre não conseguíamos encontrar o final. Não havia Internet. Esperávamos ansiosos pela segunda-feira para saber o desfecho. Era assim, na simplicidade da releitura de Sherazade que aquela professora/fada de uma escola pública do interior, com seu condão, tocava os nossos sentimentos e ensinava que nos livros estavam universos fascinantes que, quando descobertos, nos dariam a vitória singela atribuída aos desbravadores. Os livros, os materiais tecnológicos estão aí para ser desbravados. E é por isso que a educação não pode aleijar a coragem, ao contrário, deve incentivá-la. Sem a coragem, as outras virtudes se intimidam.